terça-feira, 10 de julho de 2012

A História é um discurso em litígio...



Existem vários intelectuais que a definem o seu modo, Karl Marx, Hayden White, Augusto Comte, Paul Veyne, Keith Jenkins, entre outros. Irei me reter a dois desses: Paul Veyne e Keith Jenkins, teóricos que se apropriam do discurso Focalteano para estudar o saber “História”. Ambos têm em comum essa semelhança com aquilo que Michael Foucault trata que é a questão do discurso. Paul Veyne diz que a história é uma narração do passado e que sua única exigência é que o fato narrado tenha ocorrido deveras. Veyne trata disso falando que as ações humanas existem, e que as importâncias de tais ações serão atribuídas pelo historiador. “Tudo é histórico, logo a História não existe”, essa máxima sintetiza aquilo que ele trata. Se formos estudar os grandes acontecimentos (que assim são denominados pelo valor que os historiadores lhe atribuíram) da história notaremos que existem várias lacunas, espaços temporais que possuem uma história, mas para aqueles que constroem esse saber tal abordagem não interessa.
Analisar a fundação de Campina Grande enfatizando apenas Teodósio de Oliveira Ledo deixa-nos brecha para estudarmos os nativos que foram trazidos por ele, povos indígenas que possuem sua história, seus traços influenciaram de certa forma na fundação da cidade. Logo essa história é escassa ou não existe. Outro aspecto conceitual que Veyne aborda é a noção de não-factual, os estudos dos fatos não terão mais uma “capital”, podemos citar como exemplo a “história política”, o historiador poderá registrar histórias das localidades, das mentalidades, da loucura, etc. Ele não estará imbuído a estudar apenas política, nisso é quando se abre as opções de pesquisa, ampliando o trabalho historiográfico. E Veyne compara esse desenvolvimento com uma floresta na qual foi aberta uma clareira, e essa clareira é o que se sabe sobre história, e tudo aquilo que se pesquisa diferente da história convencional é uma abertura nessa clareira. 
O trabalho do historiador é absorver essas teorias e entre outras e buscar fatos que são pertinentes a uma serie de aspectos, não está imbuído na maioria das vezes registrar o que bem entende, seu trabalho vai depender de sua ideologia política, convivência com a família, com amigos, com a teoria que prefere, etc. O historiador possui mesmo com tais “pressões” o poder de escolher em que trabalhar, pois segundo Veyne a historia é infinita e indeterminada, ele pode agora estudar algo que é pouco estudado ou ainda não que foi estudado. Nietzsche disse no século XIX que a história estava morta e aqueles que a criavam também, isso entendo analisando o dogmatismo e a noção limitada que a história possuía nessa época.
Keith Jenkins, outro teórico que conceitua a história, começa falando que tal saber é um discurso entre os vários existentes sobre o mundo e que tal discurso vai ter como objetivo o passado. História e passado são duas coisas completamente distintas, uma vem a ser aquilo que o profissional da história escreve sobre determinado fato que aconteceu e o espaço de tempo no qual esse acontecimento surgiu. Jenkins facilita essa compreensão chamando de historiografia o que é escrito pelo historiador e de “o passado” o tempo que tal escrito aborda. 
O mundo é um texto, no qual cabe várias leituras, inúmeras interpretações de um mesmo acorrido, um historiador não é capaz de registrar toda a historia, por isso deve-se estar(a historia) em uma constante autocrítica  devido a epistemologia da época. Ele segue expondo outro argumento para conceituar história e trata agora da conciliação entre história e passado, pois disso vai depender a historiografia, daí  surgem três campos problemáticos os quais ao serem compreendidos facilitaram o entendimento sobre o que é história. A epistemologia, a Metodologia, e a ideologia. Episteme compreende pelo conjunto de conhecimento que se tem em determinada época, então nenhum historiador consegue abarcar todo o passado, não consegue registrar todos os fatos de um período, mesmo que esse seja curto, o relato que ele fará não conseguirá recuperá o passado tal qual era, pois nenhum relato é fundamentalmente correto, aí temos a idéia de que a história não é absoluta, não existe uma verdade e sim verdades ou pontos de vista, e tais pontos estarão sujeitos à subjetividade do historiador em sua época, hoje podemos falar com certas liberdades da história homossexual, porém pessoas mais antigas se provendo do famigerado senso moral não o fariam e nós que estudamos o passado entendemos o motivo pelo qual essa recusa existe, pois sabemos na maioria das vezes mais do passado do que aqueles que viveram lá. 
Metodologia está no cerne da fragilidade da história, tendo em vista que a historiografia é um discurso em constante transformação, ao longo do tempo surgiram diversas correntes de pensamentos que insistem em uma busca pela verdade. Temos a direita empiricista, a esquerda marxista, centro empiricista, etc. Cada qual com sua idéia acerca de diversas questões, as quais são superadas ou não. E aqueles historiadores que sequem quaisquer que sejam tais correntes estarão limitando sua liberdade interpretativa, expondo-se a seguir regras e procedimentos rígidos que no máximo lhes trarão outro ponto de vista sobre um fato qualquer que se diferenciará de outro por algum critério, isso porque os métodos não possuem consenso. 
No tocante a ideologia a historia vai valer quando escrita pela classe dominante, logicamente existiu no decorrer da história pontos de vistas diferentes das pessoas que faziam parte em cada época de um segmento importante ou não de determinada sociedade. O que conhecemos como história é a da classe dominante, porém os dominados também possuem uma história, essa que é reprimida de certa forma pela ala dominante. Expondo essas três idéias( Epistemologia, Metodologia,Ideologia) irei comentar sobre a prática do historiador na visão de Keith Jenkins. Quem produz a “história” dos livros didáticos? Vemos os artigos desses livros bem resumidos e que explica de forma limitada as fases históricas que são pertinentes a camada dominante, isso seguindo a idéia da ideologia.  Os historiadores que constroem essas histórias sofrem algumas pressões, seja elas da academia, dos amigos, da própria ideologia e da subjetividade, além das pressões do cotidiano, os colegas de trabalho, a editora e ate mesmo o limite Maximo de paginas que lhe são estipuladas pela ordem hierárquica. 
O historiador deve escolher quais métodos usar em sua pesquisa e como lidar com o material disponível para esse trabalho, ele segue sua subjetividade e sua ideologia, no seu empenho como profissional ainda deve seguir um vocabulário próprio, afinal toda profissão tem sua linguagem própria, e escolher que aspecto histórico abordar, tendo em vista que tal abordagem será muito limitada, ele pode optar pelo aspecto político, cultural, econômico, cultural, etc. Assim ele pode agora estudar os vestígios do passado e transformá-los em uma nova categoria, isso segundo Keith Jenkins é o fazer histórico, em seguida deve-se perguntar para quem estou escrevendo, será para o publico infantil, ou para os adultos, ou ainda para a academia? Saber fazer essa pergunta é essencial para um historiador. Ter noção do seu publico alvo é um dos requisitos para um bom artigo em história e nisso é o que consiste a leitura do mundo, especificamente do passado, que por fim resulta na Historiografia ou até mesmo na História.

OBS: texto elaborado como exigencia da cadeira de Teoria I (História/UEPB), professora Kyara Almeida.

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