quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"LUTO" por LUTA.


Sobre o caso de Santiago, o jornalista atingido pela explosão de um rojão. É uma lastima ele estar naquele exato lugar cobrindo um plano e ordens de seus superiores. Jornais que pagam por belos enquadramentos, pela ação sensacionalista, pelo cinema verité, por imagens que chocam, pois é isso que rende matérias, que rendem telespectadores, que rendem patrocínio, que rendem mortes e lagrimas, mas pergunto: por que não usava capacete, colete e identificação deimprensa como os colegas da mídia internacional?

Se há culpados dessa vida ceifada, somos todos nos, que assistimos vídeo cassetadas comemorando a desgraça alheia, somos todos nos que apresentamos e assistimos programas diários de violência desmedida, somos todos nos que aplaudimos justiceiros, nos compadecemos com criminosos, a sociedade inteira é culpada pela morte do cinegrafista.

Dos donos da Band aos oficiais da PM, do prefeito do Rio ao assistente de câmera, dos manifestantes de preto aos de verde e amarelo, todos nos juntos acendemos o pavio que matou Santiago.

Pra vocês entenderem o que digo enumero algumas mortes em manifestações antes de Santiago:

1. a gari Cleonice Vieira de Moraes, em Belém (PA), vítima do gás lacrimogêneo lançado pela polícia militar;

2. 13 mortos na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré (RJ) - neste caso, a imprensa sequer se deu ao trabalho de informar todos os nomes;

3. o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, em Ribeirão Preto (SP), atropelado por um carro que furou um bloqueio de manifestantes;

4. Valdinete Rodrigues Pereira e Maria Aparecida, atropeladas em protesto na BR-251, no distrito de Campos Lindos, em Cristalina (GO);

5. Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, que caiu do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte (MG), por ter sido acuado pela polícia militar;

6. o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, atropelado por um caminhão que fugia de uma manifestação, numa ciclovia próxima à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na altura de Guarujá (SP);

7. Paulo Patrick, de 14 anos, atropelado por um táxi durante manifestação em Teresina (PI);

8. Fernando da Silva Cândido, ator, por inalação de gás lançado pela polícia, no Rio de Janeiro.

9. o senhor que foi atropelado por um ônibus, ao tentar fugir da polícia, na mesma manifestação em que o cinegrafista Santiago foi atingido - sobre esta outra vítima, nenhuma linha na imprensa. Chamava-se Tasman Amaral Accioly e era vendedor ambulante.

E por ultimo lembro de Sergio Silva e Vitor Araújo ambos de SP que perderam a visão de um dos olhos por conta de bombas.

TEXTO: Gini Gini

Paz aos familiares do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade.

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