terça-feira, 24 de setembro de 2013

Só vai sobrar o Vermelho!

"Só vai sobrar o vermelho!" novo documentário de Riccardo Migliore (em fase de produção)

"Só vai sobrar o vermelho" está sendo produzido entre as cidades de Campina Grande e João Pessoa (PB). 
 
O documentário, possivelmente um média ou longa-metragem, é inerente à situação da juventude afrodescendente na PB (CG e JP). O título tem duplo sentido, sendo que o fato de "só sobrar o vermelho" aponta para o desaparecimento do preto, outra cor da bandeira do Estado da Paraíba. Neste sentido, trata-se de um título forte, inclusive o vermelho também está ligado ao sangue que está sendo derramado por muitos jovens, em  grande maioria negros.
Daniel Santos, Artesão/Estudante do Projovem do Bairro do Jeremias (CG/PB)
 
A justificativa da urgência desta produção encontra-se nos dados oficiais contidos no "Mapa da Violência" (http://mapadaviolencia.org.br/) no que se refere ao estado nordestino, um dos recordistas negativos em escala nacional (quanto ao aumento do índice de mortes de jovens negros de 2006 até 2010: apenas para exemplificar, Campina Grande passou de 84 mortes de jovens negros para 196,9; enquanto no mesmo período as mortes de cidadãos brancos se reduziram de 74 para 11,4; Já Santa Rita passou de 28 para 229 jovens negros assassinados; enquanto as mortes de  jovens brancos passaram de 34 para 9,9). 
À esq. sentado de costas, o Tatalorixá Pai Vicente Mariano 
e à dir. Riccardo Migliore (Diretor do filme)
filmando no terreiro, dia 21/9/2013. 

É útil salientar que nós nos alegramos com a redução de mortes de jovens brancos (o valor da vida não se mede pela cor da pele), contudo, o aumento consistente de mortes de jovens negros é alarmante e merece visibilidade e ações urgentes por parte de toda a sociedade, que em seu conjunto, sente-se refém, inclusive em suas próprias casas. 
William, historiador, é idealizador e coordenador de um projeto 
de Biblioteca Comunitária no Bairro do Tambor (CG), além 
de ensinar Capoeira às crianças do mesmo bairro.  

 
A produção do filme é nossa, em parceria com Ariosvalber Oliveira e Moises Alves(MNCG)Através deste documentário pretendemos chamar a atenção sobre esta situação ao mesmo tempo lamentável e assustadora. 
Moises Alves e Ariosvalber Oliveira carregando uma faixa contra preconceito e racismo antes do jogo de futebol do Treze FC contra o Fortaleza, 
no Estádio Presidente Vargas (22/9/'13).
Fotograma extraído da filmagem

Nossa postura não é complacente quanto aos que se envolvem no crime, inclusive buscamos mostrar e enfatizar exemplos de jovens bem sucedidos que venceram na vida e escaparam do triste destino que marca a maioria daqueles que se envolvem com as drogas e a delinquência. Contudo, é preciso entender que trata-se de uma situação complexa, que não pode ser reduzida a lugares comuns e leituras simplistas segundo as quais "os jovens negros se envolvem porque querem". 
Pai Vicente Mariano, Tatalorixá do Terreiro da Estação Velha, CG/PB. 
Desenvolve um trabalho social junto à comunidade carente do bairro (fotograma extraído das filmagens no terreiro)

Junto a moradores e moradoras de bairros periféricos violentos e outros  locais de risco, e com a ajuda de artistas e intelectuais afrodescendentes paraibanos, tentamos compreender melhor este "estado das coisas", cujos números em si espantam por se aproximarem àqueles de uma guerra civil e evidenciar o aumento da desigualdade racial, mas não explicam completamente (se bem que os números em si são bastante emblemáticos) as razões deste genocídio da juventude negra, por sinal, pouco divulgado pelos principais meios de comunicação e informação.
Professora Solange, assistente social e docente no 
Projovem do bairro Jeremias (CG/PB)

Apesar da produção encontrar-se ainda em sua fase inicial, podemos destacar desde já de qual filme NÃO se trata: não estamos produzindo um documentário sensacionalista (cadáveres, pessoas morrendo, parentes chorando, com toda probabilidade não entrarão a fazer parte deste filme, isso por uma questão de respeito).
Riccardo Migliore (diretor do filme) junto com o cantor paraibano Jonas Escurinho, que aceitou participar destedocumentário, trazendo sua 
rica trajetória de vida e sua atividade de arte-educador, inclusive 
em presídios para jovens infratores de João Pessoa (PB).

Concluindo, ao se tratar de um tema delicado e polêmico, não esperamos receber incentivos institucionais (que por sinal até agora nunca recebemos), portanto qualquer tipo de parceria ou apoio cultural, técnico e financeiro será muito bem vindo. Por enquanto contamos com o apoio de alguns artistas da terra, como Jonas Escurinho (JP), e o próprio Moises Alves (CG) além do Projovem do Jeremias (CG), o Terreiro do Tatalorixá Pai Vicente Mariano (Estação Velha/CG), o Projeto de Biblioteca comunitária do Tambor (CG), além do MNCG, do qual Moises e Ariosvalber fazem parte.  
  
Seguem algumas imagens de bastidores, sendo que outras informações serão postadas em breve.
 

De esquerda a direita: Moises Alves (Co-Produtor/Pesquisador), Daniel Santos (Depoente/Estudante do Projovem do Jeremias), Riccardo Migliore (Diretor/Produtor do filme), Ariosvalber (Co-Produtor/Pesquisador).
 

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