A questão maior é como nós vamos resolver o problema do
desemprego, da falta de educação de qualidade e de oportunidades na vida dessa
parcela da população brasileira, abandonada historicamente por esse capitalismo
racista e responsável por esse vergonhoso genocídio silencioso, porém, bastante
eficaz na sua forma de negar o direito à vida para nossos jovens afrodescendentes.
Enquanto a elite branca faz esse debate com vistas a super lotar ainda mais os
presídios e sepultar de vez o futuro dos jovens negros e pobres, caso essa
proposta nazista venha a ser uma dia aprovada pelo Congresso Nacional. Desafio
os defensores da redução da maioridade penal a tirar do papel o Estatudo da
Igualdade Racial, já que o mesmo garante que o Estado brasileiro deve investir
na cidadania da juventude negra. Desafio esses hipócritas de plantão a botarem
em prática as mais de 700 propostas maravilhosas que foram construídas pelo
Encontro Nacional da Juventude Negra- ENJUNE, ocorrido no ano de 2007, na
cidade de Lauro de Freitas-BA. Com certeza, acredito que esse debate que aqui
estou propondo a elite não quer nem saber, por entender que isso seria levar o
Brasil para os rumos do quilombismo e isso não importa para quem se acostumou a
morar em bairros blindados, explorando e assediando moralmente e sexualmente
suas empregadas negras e pardas como na época da casa grande e senzala.
A forma hipócrita como a elite dominante e racista
encara esse debate, na verdade, parece e
muito com os discursos travados no Congresso logo após a abolição e pelos
juristas influenciados pela antropologia criminal do italiano- Césare Lombroso,
quando se dizia abertamente que o Brasil não deveria abrir escolas noturnas,
pois isso iria atrair vagabundos e
marginais para as escolas.Também se defendia um Código Penal diferenciado para
negros e brancos, mas a face mais cruel desse racismo veio com a criminalização
da vagabundagem no Código Penal. Por esse Código que passou a vigorar um mês
após a libertação dos 700 mil cativos o Estado brasileiro podia prender, torturar
e jogar na cadeia quem fosse encontrado nas ruas sem ocupação e trabalho. Ora,
quem estava jogado à própria sorte e sem trabalho era o povo negro no pós
abolição, pois os trabalhadores brancos italianos e alemães tinham a
preferência na ocupação do mercado de trabalho na visão racial dos patrões.
Para nós historiadores, sabemos que a modernidade que a sociedade brasileira
deveria adotar tinha de ser construída e moldada pela “superioridade da civilização européia.”
Era dessa maneira que a classe política
e seus intelectuais subservientes a esse projeto de embranquecimento e
higienização social e étnica dos espaços urbanos pensava para garantir a paz,
conforto e progresso econômico da elite branca. O Bairro de Higienópolis da
cidade de São Paulo, provavelmente, deve ter surgido a partir desse contexto
histórico, acredito eu como historiador.

Como
podemos perceber, o que estava claro
nesse modelo de desenvolvimento de nação era a necessidade de tornar o país
“brasiloiro” como diria o poeta campinense Arnaldo Xavier.Torná-lo rico e
próspero apenas para uma pequena elite branca. Esse modelo, infelizmente,
acabou se perpetuando nas práticas e
discursos de muitos que dominam atualmente a nossa economia e política no
Brasil.Também foi esse projeto de modernidade conservadora e de embranquecimento
da população brasileira, portanto, que fez
com que a população negra fosse empurrada para a periferia, morros, palafitas e
favelas onde não sem tem serviços públicos de saúde e educação de qualidade. Onde
não se tem espaços de lazer para seus habitantes e uma segurança que respeite os direitos
humanos do povo negro. Esse debate não chega nas casa dos(as) brasileiros(as) e
a elite manipula a realidade social e esconde do grande público as verdadeiras
causas históricas, que levam nossos jovens afrodescendentes para uma cidadania
de segunda classe nos grandes centros urbanos e periferias do Brasil.
Portanto,
diante desse contexto, quando penso no sofrimento, violência policial, abandono
social e desemprego enfrentados diariamente pela juventude negra. Sou obrigado
a voltar para esse debate sobre a redução da maioridade penal e dizer que não
aceito essa ideia jamais, visto que não
podemos aceitar e admitir que uma elite que gasta bilhões com a Copa do Mundo.
Seja a mesma elite brasileira que não tem respostas para os dados que
envergonham nossa frágil democracia social e política: no Brasil de cada 10
brasileiros pobres, 6 são negros. Também sofremos mais com a violência policial
quando escuto o maravilhoso DVD dos Racionais 1000 Trutas 1000 Tretas. Lá tem
uma fala de Mano Brown em que o rapper diz que de cada 4 brasileiros mortos pela polícia,
3 são negros. São essas questões sociais e raciais que me incomodam e que
deveriam fazer parte da pauta de políticos e dos meios de comunicação. No
entanto, o que escuto por aí é que não podemos mais aceitar que “menores não
sejam presos e fiquem na impunidade.”Até quando vamos conviver com esse
discurso hipócrita e racista das elites políticas e logotécnicas no Brasil?
A cidade de
Campina Grande é um exemplo paradigmático do quanto as elites racistas são
perversas com a juventude negra. Aqui poucos são os gerentes de lojas e
farmácias que dão emprego para os afrodescendentes, justamente numa cidade onde
nós somos 51% da população campinense de
acordo com dados do IBGE. Para debater esse desemprego, o Movimento Negro de Campina Grande fez uma
mesa redonda sobre a Convenção 111 da OIT e o racismo enfrentado pela raça
negra no mercado de trabalho no SINDILOJAS. Só compareceu o Presidente deste
sindicato, à época, o senhor Geraldo Magela, visto que a CDL e a Associação
Comercial de Campina Grande preferiram ignorar o convite do MNCG, mostrando o
total descaso e indiferença com o profundo e violento racismo emfrentado pela
raça negra no comércio da nossa cidade. Essa indiferença política das elites
eurodescendentes com a nossa realidade racial é, na nossa concepção, a
principal responsável por fazer de Campina Grande o vigésimo quarto município
onde ocorre mais crimes brutais contra jovens negros no Brasil, segundo o mapa
da violência de 2012, divulgado pelo governo federal e que não recebeu a mínima
atenção da classe política, dos empresários e dos meios de comunicação da
“cidade da inovação,” diga-se a bem da verdade.
Por fim,
acredito que um bom caminho para combater o racismo e melhorar a situação de
vida dos jovens afrodescendentes por aqui. Seria os Vereadores de Campina
Grande aprovarem o projeto do Vereador
Napoleão Maracajá, um projeto que estabelece a Semana da Consciência Negra e o
feriado municipal para o dia 20 de novembro, visto que essa iniciativa poderia
contribuir para dar visibilidade a todo esse debate que estamos discutindo
sobre o genocídio da juventude negra. O projeto é uma política afirmativa e
deve ser avaliado pelo lado histórico, uma vez que Campina Grande como o Brasil
tem uma grande dívida histórica e social com a nossa população negra. Na nossa
cidade 80% dos garis são negros e pardos e a maioria dos trabalhadores da
construção civil também são de origem africana. O racismo tem exatamente essa
característica desumana e injusta, ou seja, ele sempre tem empurrado o povo
negro para os trabalhos mais pesados e de menor remuneração. Nesse sentido não
podemos mais aceitar que a Câmara de Vereadores de Campina Grande permaneça
indiferente diante desse quadro social e racial, marcado pelo genocídio
silencioso e grande desemprego enfrentados pelos nossos jovens afrodescendentes
moradores do Pedregal, Bairro das Cidades, Bairro da Glória, Tambor, Catingueira,
Bairro do Mutirão, Geremias, morro do urubu, Ramadinha e de outros bairros e
territórios, chamados pelos intelectuais e agentes públicos de áreas de
vulnerabilidade social.
Com a palavra,
as elites racistas e sua classe política omissa diante desse verdadeiro
genocídio praticado sob os olhos coniventes e complacentes da classe política
campinense.
Autor: Jair Nguni-Historiador e militante do Movimento Negro
de Campina Grande.
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