sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Câmara de Vereadores de Campina Grande rejeita feriado para o dia 20 de novembro e humilha movimento negro no Dia Nacional da Consciência Negra

 No último dia 8 de novembro o Movimento  Negro de Campina Grande completou 27 anos de luta contra o racismo. Como presente de aniversário, sofremos a maior humilhação da nossa história, tendo em vista que a sessão especial que estava marcada para acontecer no dia 20 de novembro foi cancelada e depois marcada para o dia 27, sem nenhuma justificativa plausível. Agindo como verdadeiros senhores de engenho, os Vereadores da “Casa de Félix Araújo” poderiam ter feito essa sessão logo após a entrega do título de cidadania campinense para a senhora Maria da Penha. Todavia, não foi isso que aconteceu como estava previsto e sendo divulgado no próprio Site e Twitter da Câmara de Vereadores de Campina Grande.
Para ser sincero, não é de hoje, que esse poder legislativo nos trata com desprezo e descaso, visto que já fizemos uma Audiência Pública com apenas dois Vereadores em plenário. Nessa audiência  compareceram o Vereador Tovar Correia Lima e o Ex–vereador Antonio Pereira. Num país em que a raça negra chega a ser mais de 51% da população brasileira era pra ser obrigação política e dever ético para qualquer representante do povo ouvir as reivindicações do movimento negro, até porque, somos nós que estamos sofrendo mais com o desemprego, analfabetismo, falta de moradias, violência policial, etc.
Essa sessão especial tinha sido uma reivindicação minha e lutei  muito para organizar esse momento tão importante na vida de quem luta pela promoção da igualdade racial. Na Câmara de Vereadores estavam presentes o Mestre de capoeira Sabiá, atual Presidente do Conselho de Mestres de Capoeira da Paraíba, os militantes do Movimento Negro de Campina Grande Moisés Alves e Ariosvalber de Sousa Oliveira, além de outras pessoas engajadas na luta pela valorização da cultura afro-brasileira como o Presidente da União dos Capoeiras do Planalto da Borborema Bega Pequeno e do Vice- presidente da UCPB Aldo Batista. Todos à espera de uma sessão especial que não aconteceu por desorganização, incompetência e má fé dos Vereadores.
Não há como negar a verdade dos fatos. O real objetivo de quem organizou a entrega do título de cidadão para Maria da Penha no Dia Nacional da Consciência Negra era desprestigiar e esvaziar a sessão especial, voltada para a valorização dos legítimos representantes dos ideais de Zumbi dos Palmares. Ademais, quando percebi que a Prefeitura de Campina Grande não tinha feito qualquer programação para refletir o Dia Nacional da Consciência Negra junto à população como fez a Prefeitura de João Pessoa em 15 bairros da capital, através de palestras, debates, oficinas e apresentações musicais e culturais com artistas e grupos da cultura afro-brasileira. Logo,  vi que o circo da hipocrisia eurodescendente por aqui estava muito bem armado para humilhar o movimento negro e impedir que a sociedade tomasse consciência das profundas desigualdades raciais no Dia Nacional da Consciência Negra- 20 de novembro.
A Prefeitura Municipal de Campina Grande, por meio de sua Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres já tinha elaborado uma programação para homenagear na Câmara de Vereadores- a biofarmacêutica Maria da Penha, o que considero politicamente correto e mais do que justo para uma cidadã como ela que vive num país onde a cada ano dois milhões de mulheres são vítimas da violência doméstica. O que é inaceitável, na minha visão, foi ter presenciado esse total descaso e desrespeito com uma sessão previamente aprovada pelos próprios Vereadores. Os convites foram feitos e distribuídos para várias escolas como o Colégio Estadual da Prata e Clementino Procópio. Foi assim que, várias entidades foram convocadas para a Câmara de Vereadores na expectativa de nos ouvir. A ASSORAC- Associação Raízes da Cultura foi uma delas.
Todo mundo sabe por aqui que sempre fizemos sessões especiais bastante prestigiadas pelo público. Mas, a politicalha carcomida, covarde e racista dessa cidade, capitaneada pelo grupo político que atualmente domina e chama Campina Grande de “cidade da inovação”, são conhecedores do nosso poder de mobilização popular. Portanto, não tenho a menor dúvida de que o movimento negro foi vítima de um grande golpe baixo e sujo. É que a intenção dos Vereadores em um verdadeiro conluio com a Prefeitura era usar o nosso público para homenagear Maria da Penha e depois cancelar a sessão alusiva ao Dia da Consciência Negra. De fato, foi realmente isso que aconteceu, já que muitas pessoas acabaram indo embora pelo fato de terem percebido que não tinha nenhum debate sobre  movimento negro, racismo e consciência negra no plenário da Câmara de Vereadores. As alunas da Escola Normal foram embora, por exemplo, já que elas perceberam que ali estava acontecendo outra coisa bem diferente do convite que haviam recebido. Essa escola gastou 100 reais para alugar um ônibus para 50 estudantes. Já outros estudantes como os da Escola Estadual Dom Luiz Gonzaga tiveram que prestigiar a entrega do título para a senhora Maria da Penha, embora estivessem ali para prestigiar a sessão especial alusiva ao Dia Nacional da Consciência Negra.
 Assim, diante desse quadro, o prejuízo educacional e ainda financeiro para os estudantes e professores dessas escolas aqui mencionadas merece um registro, visto que muitos não tiveram aulas nesse dia e tiveram que gastar dinheiro do próprio bolso para prestigiar uma sessão especial que não aconteceu. Será que algum dia os Vereadores vão pedir desculpas para essas escolas? Por que não botaram a sessão para acontecer antes da entrega do título de cidadão, para a senhora Maria da Penha?
 Creio que nesses 27 anos de luta do movimento negro campinense fizemos aproximadamente cinco sessões especiais. Nunca tínhamos organizado uma sessão para ser cancelada e remarcada para outra data como os Vereadores fizeram sem nos consultar. Outro erro da Câmara de Vereadores  foi ter rejeitado o feriado municipal para o dia 20 de novembro, pois esse tipo de atitude reforça o racismo. Teve Vereador, inclusive, que alegou que o comércio não podia parar. Outros se posicionaram contra por entender que o Brasil já tem feriado demais. É, pelo que podemos notar, os Vereadores de Campina Grande são defensores de um centro comercial onde impera um violento racismo, visto que são pouquíssimos os negros e negras que conseguem emprego no comércio de nossa cidade.
Realmente, é muita hipocrisia e demagogia de um poder legislativo, tendo em vista que eles tinham  aprovado a criação da Semana da Consciência Negra e de Ação Antirracista este ano. Em síntese, os nobres Edis de Campina Grande desrespeitaram o que eles  aprovaram em debates no plenário da “Casa de Félix Araújo”, assim como fizeram de conta que não sabiam que já é feriado em mais 1047 cidades em todo Brasil. Assim sendo, caiu por completo a máscara da hipocrisia política dos Vereadores daqui, já que o comércio de grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba pode parar, mas o de Campina Grande não pode na visão tacanha dos “representantes do povo”.
Nós do movimento negro temos percebido que várias homenagens são feitas na Câmara de Vereadores, geralmente para personalidades da classe média branca. Posso citar alguns nomes que receberam este ano homenagens recentemente deste poder legislativo. São eles: o Reitor do Mackenzie Benedito Guimarães, o Diretor do IFPB  Cícero Nicássio e o historiador Josué Silvestre,  sendo que este último ganhou uma medalha de honra ao mérito dos Vereadores e os outros dois professores títulos de cidadãos campinenses. O Babalorixá e pernambucano Vicente Mariano que tem mais de 58 anos de iniciação no candomblé jamais foi homenageado pelos Vereadores campinenses. O mesmo posso dizer da umbandista Ivonete do Keto e do conhecido Babalorixá pai Walter da Lagoa, ambos residentes no Bairro de José Pinheiro.  Já pedi para o Vereador Napoleão Maracajá para apresentar essa proposta de homenagear Vicente Mariano no próximo ano, com o titulo de cidadão campinense. Será que essa proposta vai ser aprovada pelos Vereadores algum dia?
Este Vereador do PC do B que é Presidente da Comissão de Direitos Humanos, tem pela frente esse verdadeiro desafio político no encaminhamento dessa minha proposta, proposta esta, que deveria ser prioridade no  mandato dos Vereadores, pois esses representantes do povo não tem feito nada para combater à intolerância religiosa em Campina Grande. Portanto, nada melhor do que começar esse debate dando um título de cidadão a quem de fato tem história para contar, visto que Vicente é negro e cultua os orixás num país racista como o nosso, onde babalorixás e yalorixás já foram presos, torturados, mortos e até enviados para manicômios apenas pelo fato de cultuar seus deuses trazidos da África. Espero que o Vereador Napoleão Maracajá tenha coragem para fazer tal debate, lutando pela aprovação desse título, já que isso seria verdadeiramente um marco na história do povo de santo tão oprimido, perseguido e marginalizado historicamente em nosso município.
Com a palavra, os Vereadores de Campina Grande responsáveis pela maior humilhação que o movimento negro já passou nos seus quase 30 anos de luta pela igualdade racial.

Autor: Jair Nguni- historiador e militante do Movimento Negro de Campina Grande-MNCG.



sábado, 30 de novembro de 2013

I Celebração Tambor N'ativa

O Tambor N'ativa, organizado por nós da Biblioteca do Tambor, obteve sucesso por conta das parcerias que foram firmadas com a Recid, o Sintab, o Thiago Som! A CG Zoo, Escola de Capoeira Afro Nagô e ainda a Universidade Estadual da Paraíba, que temos no Luan Costa (funcionário da UEPB e um dos organizadores do Tambor N'ativa) nossa ponte com essa instituição de ensino. A proposta do evento é a de provocar a comunidade para a importância da cultura e da educação, através de leituras, como fator de transformação da pessoa humana. O evento foi realizado na rua do Juá, a qual estava interditada para passagem de carros e motos! O número de moradores que vieram prestigiar o evento não sabemos ao certo, mas, observando as fotografias ( retiradas por Herbert Oliveira Andrade) expostas a baixo podemos perceber a boa participação da comunidade. Numa celebração repleta de manifestações culturais que raramente tais pessoas tem acesso, bem como na discussão sobre consciência negra! Em tempos que o genocídio da população jovens e principalmente negra, aumenta assustadoramente em nossa estado e também em nossa cidade, considerar a consciência negra como modo de respeitar e exercitar a alteridade entre as pessoas é bastante importante, e foi essa ideia que transmitimos para que cada uma das pessoa s presentes pudessem refletir.

 Livros expostos para leitura!
 Roda de Capoeira. (Escola de Capoeira Afro Nagô)
Moradores e ativista culturais prestigiaram o evento. Em destaque a direita da foto Allan Barros e Petrus Vinícius.
 Muito Samba de Roda
 Sarau Poético! Leitura de Navio Negreiro - Castro Alves.
 Maculele - Escola de Capoeira Afro Nagô.
  Maculele - Escola de Capoeira Afro Nagô.
 Artista convidado: Ruan Galdino, morador do bairro, na companhia de Eduardo Silva, Danilo Panda e Williams Cabral.
 Público Presente!
 O público composto por Crianças, Jovens e Adultos! O Tambor N'ativa não possui distinção nenhuma!
 CG ZOO, Grupo Convidado provocou e alegrou toda as pessoas presentes!
Públicos Jovens do Tambor N'ativa!

Fotografias de Herbert Oliveira Andrade.

Tambor N'ativa


Consciência Negra aos olhos da periferia 

Ação promovida pela Biblioteca do bairro do Tambor reúniu artistas, comunidade acadêmica e moradores em noite cultural com dança, música e literatura.


foto: Herbert Oliveira Andrade



No último dia 20 no bairro do Tambor realizou-se evento em Celebração ao dia da Consciência Negra, em parceria com a Biblioteca Comunitária do Tambor, CUCA (Centro Universitário de Cultura e Artes), UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) Escola de Capoeira Afro Nagô, RECID (Rede de Educação Cidadã), Thiago Som, SINTAB (Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste da Borborema).
Com o intuito de propagar a cultura a arte e sua diversidade o evento iniciou sua atividades com a exuberância e peculiaridade da cultura africana “O Makulelê” (Escola de Capoeira Afro Nagô) Logo após no sarau poético Williams Cabral (Organizador do evento e da Biblioteca Comunitária do Tambor) declamou o poema “Navio Negreiro” de Castro Alves emocionando o público. Por fim as atrações, musicais completaram a noite com muito talento e musicalidade, Ruan Galdino e o Rap do CG Zoo envolveu à comunidade que prestigiou o evento com receptividade e animação. “Um evento como esse é muito importante para nossa comunidade, traz a importância da leitura e do ensino. As próprias atrações culturais, a capoeira, a música ,o sarau poético deram oportunidade das pessoas do bairro que tocam, cantam e declamam, as crianças do projeto -as que participam da capoeira e da biblioteca - gostam bastante e estão desenvolvendo um outro olhar sobre cultura e música”, disse Williams Cabral. Enfatizando a Celebração do Dia da Consciência Negra, outros participantes do evento falaram da influência que a cultura Afro tem na formação dos moradores da periferia. Para Alex Araújo, (ativista cultural e integrante do CG Zoo) “É de máxima importância, porque essa é a real referência que o povo da periferia necessita”, concluiu. Já Edvaldo Batista (Morcego), professor e responsável pela Escola de Capoeira Afro Nagô, fala de sua experiência como educador e propagador da cultura africana. “ A disseminação da cultura o reconhecimento da criança como negra, sua identidade étnica racial e o comportamento e relação entre elas, incentivando o companheirismo e educação reflete nas ações das crianças, já que por meio de nosso trabalho o comportamento das mesma melhoraram com seus familiares, amigos e convívio social”, Ressaltou o instrutor.

reportagem: Poliana Farias

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Arqueólogo

Uma Viagem por museus de sociedades antigas de várias partes do mundo!

Façam uma visita!

http://preteritos.wix.com/arqueologo#!museu-istambul/c17cr

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Tambor N'ativa!


No próximo dia 20 de Novembro, dia nacional da consciência negra, teremos no Tambor uma celebração com muita música, cultura e arte!
Crianças e artistas seguirão em cortejo pelo bairro entoando músicas de capoeira, batuques de Maracatu e coco e muita alegria.
As declamações poéticas terão espaço no Sarau poético aberto para quem quiser participar.
A música fica por conta da CGZoo, grupo de Rap de Campina Grande que decola na cena campinense se consagrando como resistentes da cultura hip hop na cidade! Ainda o som frenético de Ruan Galdino com Wellington Madeira e seu Sax!


O Evento promete uma celebração na qual o respeito e o repudio ao racismo e discriminações serão as principais bandeiras!!





ESTÃO TOD@S CONVIDAD@S!!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

o Dia das Crianças!

Essa data coloca muitas famílias em apuros, pois inseridas nesse sistema de consumo, que não obriga ninguem a comprar, mas quem não compra é excluído e chacoteado em muitos lugares. Na periferia as crianças necessitam de ações sócio culturais nas quais podem ter a oportunidade de ganhar presentes, de divertir-se em uma data que é para as crianças, mas, principalmente para àquelas que podem ir ao shopping gastar dinheiro! Somente isso se torna distração e divertimento. Pensando diferente nós da Biblioteca Comunitária do Tambor decidimos fazer um Quebra Panela e sorteio de brinquedos. Brincadeira bastante divertida e ainda repleta de doces e balas, complementou a alegria da criançada disposta a uma pequena alopração numa tarde morgada de sábado,dia das crianças!
No final da atividade, surgiu até helecoptero de brinquedo!

Roda de Leituras!

Além das rodas de Capoeiras sempre nos encontros na AMT (Associação de Moradores do Tambor), são também realizadas as Rodas de Leituras! inicialmente ocorria na Biblioteca (como ainda acontece), mas percebemos que levando alguns livros selecionados pelas próprias crianças, as rodas iam render mais, assim como podemos observar as imagens seguintes!

Tambor de Cinema!

Seguindo com as séries de exibições de curta metragens e animações, o Tambor de cinema uniu dezenas de crianças e jovens na Biblioteca Comunitária do Tambor. A proposta das exibições é de garantir ao público que frequenta a biblioteca, o contato mínimo com a chamada sétima arte. Telão, pipoca, silêncio (ou sua busca!)e muita diversão é o que podemos ter nos dias do "Tambor de cinema"! Vejamos algumas imagens:

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sigilo fiscal?

Claudius
por Silvio Caccia Bava
Quem ficou sabendo que o governo federal abriu mão de cobrar R$ 1 trilhão de impostos lançados na dívida ativa da União, devidos principalmente por grandes empresas, públicas e privadas?

Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), a provisão, em 2013, para perdas lançada na dívida ativa da União é de R$ 966.413.275.095,20, quase R$ 1 trilhão. E a dívida ativa da União, em setembro deste ano, totalizava R$ 1,35 trilhão. Considerar mais de 70% da dívida impagável é uma mudança radical de postura que vem de 2012. As provisões para perdas em 2008 não ultrapassavam 10% do total da dívida ativa.1

Mesmo reconhecendo falhas no sistema, apontadas por auditoria da Controladoria Geral da União, o que ressalta no relatório da CGU é que todos os órgãos envolvidos – Receita Federal, Ministério do Trabalho, Secretaria do Patrimônio da União – também são responsáveis pelas falhas identificadas e, mais grave, deixam o sistema vulnerável a
fraudes.2
Quem decidiu que há devedores que não podem pagar? Que devedores se beneficiam dessa nova política? Isso foi decidido nos meandros burocráticos do governo, longe do debate público. Em nome de uma legislação que defende o sigilo fiscal das empresas, os
principais devedores da União são mantidos no anonimato, protegidos por uma atitude
do governo que ultrapassa em muito o que a legislação define. O centro da questão é a
democracia. Por mais bem-intencionado que seja, não pode ser um grupo de técnicos
que decida abrir mão da cobrança de R$ 1 trilhão.

Um trilhão de reais é muita coisa. Dá para transformar a vida dos brasileiros. Dá para
melhorar muito a infraestrutura urbana para uma boa vida nas cidades. O jornal Valor
Econômico estima que as demandas das ruas exijam investimentos de R$ 115 bilhões
por ano.3

Essa mesma postura de assegurar o sigilo fiscal para preservar a imagem das empresas que são devedoras de impostos é assumida também pela Prefeitura Municipal de São Paulo, que se recusa a informar quais são as vinte empresas com os maiores débitos de impostos municipais. A dívida ativa do município é de R$ 55 bilhões.

Como conselheiro da cidade, solicitei essas informações e a resposta da Secretaria de
Finanças foi de que os dados das empresas não são passados porque são protegidos pelo sigilo fiscal. E isso é mantido mesmo com a nova lei de acesso à informação. Os nomes das empresas são protegidos.

Consultei escritórios renomados de advocacia, que me esclareceram: depois da
condenação da dívida, não há mais sigilo fiscal. A Secretaria de Finanças do município
de São Paulo, assim como os órgãos federais responsáveis pela dívida ativa da União
exorbitam ao negar essas informações. As execuções fiscais são públicas. Por isso,
ainda que exista sigilo na fase administrativa, na fase judicial já não se fala em sigilo.

Durante décadas foi construída uma institucionalidade feita para separar a economia da
política. A autonomia do Banco Central é a joia da coroa. A economia é dirigida para
alavancar a acumulação e beneficiar especialmente os grandes bancos. A política serve
para administrar as pressões sociais e garantir o status quo.

Nos últimos anos, a sonegação de impostos só vem crescendo. E a impunidade favorece
esse comportamento. Hoje temos uma carga tributária de 35% do PIB, e especialistas
dizem que, se não houvesse sonegação, poderíamos baixá-la para 20% e ainda haveria
superávit.
Inverter essa lógica é o grande desafio. Para priorizar o interesse público sobre os
interesses do mercado, a economia deve se submeter ao planejamento e ao controle
democrático. E o governo deve cobrar das empresas os impostos devidos. Eles são
creches, escolas, salários melhores para os professores, melhores transportes coletivos e muito mais.

A disputa é para revigorar as instituições democráticas. É para ampliá-las, acolher novos
atores e criar novas instâncias de participação cidadã e controle social, inclusive sobre
as finanças públicas. Os nomes das empresas sonegadoras, assim como a natureza e o
montante de seus débitos com o poder público, devem ser de conhecimento de todos. Os
governos eleitos são responsáveis por assegurar essa postura de transparência.


Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil


1 Dados do Siafi fornecidos pela ONG Contas Abertas.

2 Fernanda Odilla, “Governo perde controle de seus devedores”, Folha de S.Paulo, 23 set. 2013, p.B4.

3 Valor Econômico, 27 jun. 2013. Citado por Odilon Guedes, “Para atender às reivindicações dos que foram à luta”, Le Monde Diplomatique Brasil, set. 2013.

fonte: http://diplomatique.org.br/editorial.php?edicao=75

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Só vai sobrar o Vermelho!

"Só vai sobrar o vermelho!" novo documentário de Riccardo Migliore (em fase de produção)

"Só vai sobrar o vermelho" está sendo produzido entre as cidades de Campina Grande e João Pessoa (PB). 
 
O documentário, possivelmente um média ou longa-metragem, é inerente à situação da juventude afrodescendente na PB (CG e JP). O título tem duplo sentido, sendo que o fato de "só sobrar o vermelho" aponta para o desaparecimento do preto, outra cor da bandeira do Estado da Paraíba. Neste sentido, trata-se de um título forte, inclusive o vermelho também está ligado ao sangue que está sendo derramado por muitos jovens, em  grande maioria negros.
Daniel Santos, Artesão/Estudante do Projovem do Bairro do Jeremias (CG/PB)
 
A justificativa da urgência desta produção encontra-se nos dados oficiais contidos no "Mapa da Violência" (http://mapadaviolencia.org.br/) no que se refere ao estado nordestino, um dos recordistas negativos em escala nacional (quanto ao aumento do índice de mortes de jovens negros de 2006 até 2010: apenas para exemplificar, Campina Grande passou de 84 mortes de jovens negros para 196,9; enquanto no mesmo período as mortes de cidadãos brancos se reduziram de 74 para 11,4; Já Santa Rita passou de 28 para 229 jovens negros assassinados; enquanto as mortes de  jovens brancos passaram de 34 para 9,9). 
À esq. sentado de costas, o Tatalorixá Pai Vicente Mariano 
e à dir. Riccardo Migliore (Diretor do filme)
filmando no terreiro, dia 21/9/2013. 

É útil salientar que nós nos alegramos com a redução de mortes de jovens brancos (o valor da vida não se mede pela cor da pele), contudo, o aumento consistente de mortes de jovens negros é alarmante e merece visibilidade e ações urgentes por parte de toda a sociedade, que em seu conjunto, sente-se refém, inclusive em suas próprias casas. 
William, historiador, é idealizador e coordenador de um projeto 
de Biblioteca Comunitária no Bairro do Tambor (CG), além 
de ensinar Capoeira às crianças do mesmo bairro.  

 
A produção do filme é nossa, em parceria com Ariosvalber Oliveira e Moises Alves(MNCG)Através deste documentário pretendemos chamar a atenção sobre esta situação ao mesmo tempo lamentável e assustadora. 
Moises Alves e Ariosvalber Oliveira carregando uma faixa contra preconceito e racismo antes do jogo de futebol do Treze FC contra o Fortaleza, 
no Estádio Presidente Vargas (22/9/'13).
Fotograma extraído da filmagem

Nossa postura não é complacente quanto aos que se envolvem no crime, inclusive buscamos mostrar e enfatizar exemplos de jovens bem sucedidos que venceram na vida e escaparam do triste destino que marca a maioria daqueles que se envolvem com as drogas e a delinquência. Contudo, é preciso entender que trata-se de uma situação complexa, que não pode ser reduzida a lugares comuns e leituras simplistas segundo as quais "os jovens negros se envolvem porque querem". 
Pai Vicente Mariano, Tatalorixá do Terreiro da Estação Velha, CG/PB. 
Desenvolve um trabalho social junto à comunidade carente do bairro (fotograma extraído das filmagens no terreiro)

Junto a moradores e moradoras de bairros periféricos violentos e outros  locais de risco, e com a ajuda de artistas e intelectuais afrodescendentes paraibanos, tentamos compreender melhor este "estado das coisas", cujos números em si espantam por se aproximarem àqueles de uma guerra civil e evidenciar o aumento da desigualdade racial, mas não explicam completamente (se bem que os números em si são bastante emblemáticos) as razões deste genocídio da juventude negra, por sinal, pouco divulgado pelos principais meios de comunicação e informação.
Professora Solange, assistente social e docente no 
Projovem do bairro Jeremias (CG/PB)

Apesar da produção encontrar-se ainda em sua fase inicial, podemos destacar desde já de qual filme NÃO se trata: não estamos produzindo um documentário sensacionalista (cadáveres, pessoas morrendo, parentes chorando, com toda probabilidade não entrarão a fazer parte deste filme, isso por uma questão de respeito).
Riccardo Migliore (diretor do filme) junto com o cantor paraibano Jonas Escurinho, que aceitou participar destedocumentário, trazendo sua 
rica trajetória de vida e sua atividade de arte-educador, inclusive 
em presídios para jovens infratores de João Pessoa (PB).

Concluindo, ao se tratar de um tema delicado e polêmico, não esperamos receber incentivos institucionais (que por sinal até agora nunca recebemos), portanto qualquer tipo de parceria ou apoio cultural, técnico e financeiro será muito bem vindo. Por enquanto contamos com o apoio de alguns artistas da terra, como Jonas Escurinho (JP), e o próprio Moises Alves (CG) além do Projovem do Jeremias (CG), o Terreiro do Tatalorixá Pai Vicente Mariano (Estação Velha/CG), o Projeto de Biblioteca comunitária do Tambor (CG), além do MNCG, do qual Moises e Ariosvalber fazem parte.  
  
Seguem algumas imagens de bastidores, sendo que outras informações serão postadas em breve.
 

De esquerda a direita: Moises Alves (Co-Produtor/Pesquisador), Daniel Santos (Depoente/Estudante do Projovem do Jeremias), Riccardo Migliore (Diretor/Produtor do filme), Ariosvalber (Co-Produtor/Pesquisador).